![Slhueta de costas, mostrando longas pernas, calçando sapatos de salto, ao lado de uma placa onde se lê "Mar Doce Lar"](https://blog.mar-goncalves.com/media/website/20220911_111731.jpg)
Aceitação ou no mínimo, respeito é algo tão difícil?
Será tão mais difícil acolher, que atacar?
![](https://blog.mar-goncalves.com/media/posts/22/9304fe11-abe4-4de2-a3ae-e399a44abe90_700x359.png)
Escrevi no final de janeiro, para a intranet de minha empresa, artigo relacionado ao Dia da Visibilidade Trans. O retorno, em termos de comentários, foi majoritariamente positivo, e marcou a revelação “oficial” no trabalho, da minha identidade de pessoa trans não binária.
Como ainda é muito comum, os sistemas da empresa ainda exibem em correio eletrônico, intranet e afins, nossos nomes de registro. Por uma questão de coerência tive a possibilidade de me identificar com este nome que me representa muito mais, e pelo qual tenho mais reconhecimento hoje.
Pela política da casa, entretanto, o nome de registro fica aposto, para “que seja possível localizar o autor no sistema de comunicação interno e correio eletrônico”.
O artigo versa justamente sobre a importância do respeito à identidade de gênero e ao nome social, de clientes e colegas, pelos vieses de empatia, ética e criação de bom ambiente, inclusive com a devida referência aos benefícios para o negócio.
Mesmo comemorando a maioria de comentários positivos — inclusive descontados aqueles de colegas do mesmo setor (gratidão, pessoas!) — , e reconhecendo aqueles neutros e os poucos negativos, um destes últimos se destacou muito, pela total falta de empatia e por exprimir exatamente o oposto do que eu indicava no artigo.
Incomoda, além disso, por ser direcionado a mim e à minha identidade:
“É delicado falar disso por aqui. A suscetibilidade de quem passa por essas situações (não necessariamente por fraqueza, maldade ou falta de boa educação) em geral é mais aguda e latente.
Contudo, arrisco [meu nome de registro], aceite-se. Aceite, com coragem e honestidade, o homem que você é. E não confunda os demais. Não há vítimas. Há desorientação.”
No artigo, dou exemplos de pessoas com identidades de gênero incongruentes com seus documentos, e modos de agir e tratar essas pessoas com tranquilidade, sem alarde e o máximo de respeito.
Mas como podem ler, o colega da empresa, em seu comentário, conseguiu:
Culpabilizar as pessoas trans (“não confunda os demais”);
Desrespeitar minha identidade (“Aceite”…”o homem que você é”);
Desrespeitar meu nome social;
Negar a existência de responsabilidade das pessoas cisgêneras (“Não há vítimas”);
Negar as identidades das pessoas trans (“Há desorientação”);
Vitimização — apesar de dizer que não há vítimas — das pessoas cisgêneras (“A suscetibilidade”…”mais aguda e latente”).
Uma rápida pesquisa nas redes sociais, mostram que o colega dá a entender, pelos seus compartilhamentos públicos, pertencer a uma crença que pelo que sei prega amor, acolhimento, perdão, compreensão, mas que infelizmente conta com membros e simpatizantes que muitas vezes defendem o contrário, como atos ou discursos homofóbicos e transfóbicos (caso do comentário, um exemplo claro transfobia em toda a sua falta de glória).
Pena que tantas pessoas dessas religiões de paz façam isso, mas tenho a felicidade de conhecer bastante gente dessas crenças que não compactuam com estas condutas e são muito acolhedoras…
Porque é tão difícil aceitar a diferença? E ainda mais respeitar?
Diz-se que ninguém é obrigado a aceitar nada, apenas a respeitar.
Discordo.
Tratando-se de pessoas, somos sim, obrigadas a aceitar que todas existem, com todos os nuances, semelhanças, diferenças e diversidades.
Afinal, somos todas pessoas humanas.
Se temos que aceitar, não necessitamos conviver de forma próxima ou íntima, para mais que necessidades sociais ou de trabalho nos obrigam (pessoalmente, prefiro ficar o mais distante possível de pessoas intolerantes), mas ainda temos que respeitar as pessoas, todas elas.
Por exemplo: pesquisei por este colega apenas para escrever estas linhas, e em respeito a essa pessoa humana, pretendo manter distância. Sua postura em suas palavras, pode ter sido desrespeitosa, mas não há motivo algum para me impor e “confundir os outros” (ele mesmo?), como ele escreve.
Pretendia originalmente adaptar e expandir o artigo da intranet para público geral, o que seria simples já que não havia nenhuma informação específica da empresa. Mas ao reler aquelas linhas, percebi que precisava dizer algo sobre aquele comentário em especial.
![](https://blog.mar-goncalves.com/media/posts/22/116ae47b-1a1b-460b-a845-38a1d7f1dedc_350x272.png)
Mas dito isso, para terminar em boa nota, deixo aqui outros dois comentários, dentre aqueles positivos, um deixado por colega com quem trabalho direta e diariamente ,e outro por pessoa de outra área/estado e que não conheço.
Nem tudo está pedido…
“Muito interessante o seu artigo por nos esclarecer e auxiliar a ter uma visão livre de discriminação. É muito importante que esse tema seja cada vez mais debatido e é ótimo saber que cada um de nós pode contribuir às vezes com pequenas atitudes, que irão refletir nosso respeito e acolhimento a todas as pessoas. Parabéns!”
“Muito bom texto! Mar, conviver com você fez com que meu olhar para essas questões ficasse muito mais apurado! Parabéns à [nome da área], que mesmo com grande fluxo de demandas , encontra tempo para reconhecer seus empregados e se preocupar com cada um deles! Orgulho de pertencer a esta equipe e ter Mar como colega!”