Opção? Opção é o caramba!
Um desabafo
Eu sei que muita gente usa o termo “opção” ou a expressão “opção sexual” por hábito, por ter crescido ouvindo isso.
Também entendo que muitas vezes usam o “sexual” em relação à pessoas trans, pelo mesmo senso comum.
Mas custa usar o cérebro que a natureza lhes deu?
Opção, como usam, implica em escolha consciente. Então, porque essa opção não lhes é aplicável? “Nunca tive dúvidas” — dizem.
Ou seja, estão dividindo as pessoas entre as que “nunca tiveram dúvidas” de suas sexualidades e identidades de gênero, e outras que “tiveram dúvidas”.
E, aparentemente, quem tem dúvidas sempre segue um caminho que a coloca como exemplo daquela conversa: “Quem sou eu para criticar a opção dos outros, mas…”
Apenas parem.
Ninguém opta por ter atração sexual/romântica por um gênero ou outro. Ninguém opta por se identificar ou não se identificar com um gênero ou outro.
Você é. Você sente.
Tomando consciência disso — o que é difícil em um mundo que lhe diz que você não tem escolhas, e paradoxalmente lhe diz que você fez essas escolhas, quando por definição “estão erradas” — suas opções são se negar ou se aceitar, e ao se aceitar, ficar no proverbial armário ou não.
Essas sim, são as opções. E, como toda escolha, assumimos as consequências necessárias.
Então, quando falam de “opção sexual” pra mim, sinto que estão censurando minha própria existência.
E estão.
E o problema não sou eu, ou qualquer outra pessoa LGBTI+. O problema está em vocês.
Tudo o que queremos é viver a vida da melhor forma possível, como qualquer outra pessoa. Mas aparentemente, nossa vida é tão ofensiva que vocês desejam que não existamos.
Infelizmente, esse sentimento reverbera. Nos faz mal, vindo de pessoas que admiramos, mas o pior é que estimula aqueles propensos à violência e agressão.
Palavras tem sim, poder. O que falamos, como falamos tem consequências, para além do contexto original. Hoje, isso é mais verdadeiro, em tempo de redes sociais digitais…
Desabafo feito, sigamos.
Errei feio, descuidando das palavras, ou mesmo abusando delas, na minha vida. Pedi desculpas — e como não basta pedir desculpas — fiz minha “penitência” e me esforço para nunca mais repetir.
No final, mais cuidado com as palavras, porque do outro lado delas estão pessoas, como todas nós.
Façamos de nossas palavras, afagos e não projéteis.