Visibilidade Trans 2017

Reflexões

E mais um Dia da Visibilidade Trans se aproxima, dia 29 próximo.

É data de Recordação, Celebração e Luta. Relembrar os que sofreram e caíram pelos caminhos, celebrar quem somos e que existimos/resistimos, e lutar pelo nosso lugar na sociedade, e pelos simples direitos de sermos e vivermos, como todas as outras pessoas.

Direito de sermos vistas e reconhecidas.

O ano passado, 2016 e.c., foi de muita violência contra pessoas trans, e este que começa, tristemente segue pelo mesmo caminho. Tivemos, entretanto, alguns avanços, com aumento de visibilidade através de candidaturas nas eleições municipais, de pessoas trans em várias capitais e cidades importantes, por exemplo.

Visibilidade, como representatividade, importa. Ter visibilidade significa que a (nossa) existência é percebida. Mas visibilidade é como qualquer ferramenta, pode ser usada para construir ou destruir. Não basta simplesmente ser vistas, é preciso que sejamos percebidas como pessoas inteiras (e não estereótipos), com todos os nuances que qualquer outra pessoa tem, principalmente porque somos como quaisquer outras pessoas: mesmas necessidades fisiológicas e biológicas e mesmas necessidades, desejos e vontades em níveis social, cultural e econômico. Sem falar nos exatos mesmos deveres!

Enquanto o novo ano se inicia, entendo que temos, como grupo social, alguma visibilidade, maior que já tivemos — fora do âmbito das piadas, das esquinas e dos salões de beleza, onde pessoas trans, travestis e transexuais sempre foram relegadas. Agora estamos na academia, no funcionalismo público, nos bancos e outras empresas. Não é fácil, não é seguro, não é igual a qualquer outra pessoa, infelizmente. Mas, a sociedade já começa a saber que estamos por aí. E isso incomoda e gera (mais) reação.

Para o bem e para o mal — porque enquanto a sociedade avança, antes do equilíbrio, há sempre muita tensão — saímos dos armários e dos espaços delimitados. Somos visíveis e causamos desconforto.E isso é esperado: o ser humano desconfia do que não conhece.

Pessoas trans e nossos aliados — especificamente aquelas que tem algum privilégio na hierarquia social (me incluo aí) — podem trabalhar no sentido de mostrar, literalmente visibilizar, o que temos em comum com todo o resto da população, como somos em verdade, mais iguais que diferentes, como somos tão diversos em nossas virtudes e defeitos quanto qualquer “cidadão de bem” e que merecemos dignidade e respeito, como qualquer um.

Somos pessoas que tem e formam famílias, trabalhamos — ou queremos trabalhar — e pagamos impostos como todas as outras. O que fazemos e como vivemos no dia a dia teriam tanto impacto nas vidas dos outros, quanto o que as pessoas cis (cis = cisgênera, ou seja vocês que não são trans) fazem, e nós não deveríamos ser censuradas, discriminadas, culpabilizadas, agredidas e/ou condenadas por sermos quem somos!

Enfim, são reflexões pessoais, que não implicam em formas de atuação obrigatórias ou algo assim. Mas essa ideia de “tornar visível o que temos de igual e o que temos de melhor” me é cara e norteará meu ativismo. Prefiro o diálogo ao embate, sempre que possível — mesmo eu sendo pessoa muito combativa (mea culpa), e a afirmação positiva me parece sempre um caminho melhor.

É lógico que é sempre necessário, infelizmente, tornar visível também todo e qualquer ataque e violência, quando for incontestável que a discriminação ou violência ocorre pelo motivo torpe da vítima ser quem é. Ou seja: Transfobia.