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Visibilidade Trans, 2019
BRASIL, Pare de nos matar!
Atenção, alerta de gatilho.
Este não é um texto típico meu. Há referências à mortes e suicídio de pessoas trans. Nada gráfico, é uma reflexão necessária, mas prossiga com cuidado.

Ano passado, meu texto em atenção ao Dia da Visibilidade Trans celebrou o começo de minhas descobertas acerca de minha identificação como lésbica, sendo pessoa não binária.
Ao final, citei o mapa da ANTRA de assassinatos de pessoas trans no Brasil em 2017.
Esse ano, por conta da eleição à presidência de um candidato que inspira violência — daqueles que já tem essa propensão — e cuja gestão política tem a posição de que não é necessário olhar para minorias, “porque a lei é igual para todos”, e pelos crimes bárbaros que já ocorreram contra pessoas trans, em menos de um mês do ano de 2019, não vou falar tanto de mim…
Tenho, mas não sempre, passabilidade cis (do gênero errado, por assim dizer), o que, no sentido de me proteger de violência, é um privilégio. Enorme.
Estou com quase 50 anos, passei bastante da expectativa de vida de pessoas trans no Brasil. Já tive ideações suicidas, tive comportamentos autodestrutivos… Mas sobrevivi.
Muitas pessoas trans não tem e não tiveram essa sorte. São expulsas de casa pelos pais, são rejeitadas pelo sistema educacional que não apenas não as protegem de bullying, como as oprimem ainda mais, desrespeitando suas identidades diversas, não conformantes…
Em 2017, segundo o mapeamento da ANTRA, 179 pessoas trans forma assassinadas em crimes de ódio.
No ano de 2018, estima a ANTRA, havendo ainda maior subnotificação (ou seja, possivelmente o número é maior), ocorreram 163 Assassinatos de pessoas Trans.
Tiros, facadas e espancamento foram os métodos mais utilizados para cometer esses crimes.
E o Estado do Rio de Janeiro, onde vivo, foi quantitativamente a unidade da federação que mais nos matou.
Esses números não levam em conta mortes por suicídio, onde não há um criminoso ou grupo de criminosos culpados. No caso dos suicídios, a sociedade cisnormativa como um todo tem responsabilidade.
Mal começamos 2019 e já tivemos vários assassinatos violentos e muito violentos de mulheres trans e travestis, além de suicídios, alguns pensados, planejados e levados a cabo por casais, buscando uma saída para um mundo que decididamente parece cada vez mais que não quer nossas existências. Não fora dos proverbiais armários.
Não vou citar nomes e não interessa se algum desses casos foram de minhas relações.
O fato é que é muito triste existir uma sociedade que te convence que não viver é o melhor a fazer…
Ainda percebo espaços de luta e articulação, mesmo com a força reacionária. Ainda tenho boas expectativas. A Tia é otimista, com os pés no chão — e se meu eu de uns dez anos atrás me lesse não iria crer que viria a ser eu.
Como disse, esse não é meu típico texto. É mais um desabafo. Mas não é sinal de desistência, é começo de novo estirão. É a pausa antes de subir os Pirineus, no Caminho de Santiago, por assim dizer.
O Dia Nacional da Visibilidade Trans é comemorado dia 29/01, desde o ano de 2004.
É um dia de lembrar as pessoas que ficaram pelo caminho, as que lutaram e ainda lutam. Em tempos de redes sociais, é dia de inundá-las com afetos e com nossas histórias. Dia de visibilidade, representatividade e ocupação de espaços.
Dia de resistência da população de Travestis, Mulheres Trans, Homens Trans e demais pessoas Trans.
(O fecho do texto foi adaptado de post informativo da ANTRA sobre o Dossiê sobre Violência contra a população trans em 2018)
